quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Diamantes distantes

Há tempos tenho observado a dolorosa escuridão que vem me cercando lentamente, a desistência das buscas, das escolhas, dos desejos mais ternos. Misteriosamente, afaguei meus monstros, acariciei meus fantasmas que, agora, caminham por aí com as flores que lhes dei como símbolo de trégua em nossas desavenças, fechei meus olhos e me deixei transitar pelas veredas repletas de curvas e cheias de prateleiras nas quais tudo que tenho não me pertence. Na cabeceira puída dos meus sonhos, encontrei desejos falidos, sentimentos descalços e cortinas rasgadas. Aquela procura jovial que se estampava bela em minha face, se esvaiu. Os sonhos mais especiais e inundados de magia, sossegaram, e já não palpitam forte nesse peito que, em muitas horas, me parece parado, gélido e esquecido em um tempo que não ousei conhecer. Os muros do medo se movimentam, tornando o quarto da insanidade cada vez mais sombrio, apertado, menor. Tenho, na parede da memória, bilhetes espalhados, com frases já quase apagadas; recados que deixei à mim mesmo, lembretes de tudo aquilo que esqueci de ser; uma cicatriz eterna nas recordações de todos os momentos que nunca aconteceram e jamais acontecerão. Desse modo, concluo que, na dureza e brilho, todos meus desejos se parecem com diamantes distantes, escondidos em minas isoladas, ocultas e jamais visitadas.

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