sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Metrópole


Essa noite fui acolhido pela nostalgia das culturas invisíveis, das artes sujas, da plástica mundana. Fui, nessa noite, arrebatado pela beleza cosmopolita da cidade poluída. Missas, política, grafite, fotografias, gravatas e bermudas surradas. Um gosto agridoce no paladar falido. Os mendigos risonhos se misturavam e camuflavam entre doutores carrancudos. Meu semblante atônito perante a tantas informações nebulosas, outras perfídias, causou pânico ao reflexo da nostálgica persona desta noite de comemoração.
Céu limpo, estrelas cadentes após a rápida garoa, esperança de bonança. Nada demais, apenas nostalgia. Tudo muito simples, perspícuo, pavoroso e belo.
Aqui, dentro de mim, aparentemente, a indiferença reina. Lá fora, a metamorfose dos quatrocentos e cinquenta e sete anos é evidente. Eis a cidade de alterações constantes. Aqui, nada dura por muito tempo, não há tempo de envelhecer, nos restam apenas as fotografias, as lembranças e a nostalgia.

Parabéns São Paulo, por aquilo que se possa parabenizar.

“Encorajo minhas pernas e mãos à toda essa patriotice.”

Dimitry Uziel
25/Jan/2011
Nenhuma mulher e nenhum homem está devidamente preparado para a verdade. Isso pode levá-los a morte.
Nenhuma mulher e nenhum homem está, de fato, preparado para morrer de verdade.

Dimitry Uziel

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ele.


Para mim. A história das minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna.
Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances dos nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos.
Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes : acreditava em todas as magias.
Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e, com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-los.
Foi primeiro um experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.

A. Rimbaud