segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS HORAS, O SONO E QUADROS BRANCOS

Não creio mais num sorriso plastificado dos dias incertos que tanto almejamos sem conhecer.
As horas são curtas, tristes e, talvez, sem esperança.
Não procurei uma felicidade de pedra que podemos somente apreciar com olhos lacrimosos seu vislumbre.
Na verdade dos dias, não cultivei falsas palavras de verão para colhê-las em qualquer primavera.
Voltei sem sono, sem mim, sem crer em lendas sobre estranhas verdades.
Um mundo vestindo o avesso transborda por meus olhos que já não sabem o que devem realmente ver.
Na parede onde descansam brandas lembranças, pendurei quadros brancos para uma história sem fim.
Estou de saída, novamente. E não quero voltar a acordar.
Na verdade, “não quero que isso aqui dentro de mim vá embora e tome outro lugar”

Parem o mundo, que eu quero descer!

dimitry uziel
26 de outubro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

FALA

Quero falar de vida, falar de voltar à vida quando tudo parece morto e sem cor.
Quero falar de minutos que resumem toda uma historia.
Quero falar das cores, do vento, do frio, da noite, dos pés que andam, dos lábios que dizem em silêncio.
Quero falar da dor que felizmente adormece.
Quero falar do que está vivo dentro do que é sublime, hoje, em mim.
Quero falar das pessoas, das danças, dos sorrisos, das bocas que se movimentam e não emitem som algum.
Quero falar da metade de tédio que me consome e da outra metade de esperança que me move.
Quero falar sobre estar vivo, sobre pairar, sobre o tempo e suas peças.
Quero falar sobre o retorno de toda história que termina sem um “fim”.
Quero falar das flores, da canção, da máquina, da fotografia.
Quero falar sobre os quadros que não vimos e sabemos que estão lá, parados.
Quero falar tudo que não pude ou não quis dizer por motivo algum no momento mais oportuno.
Hoje, mais do que nunca, preciso falar...

18 de outubro de 2010
dimitry uziel

TEMPO PARADO

A margem de tudo que me parece irônico; lugares, pessoas, céus e lares me aparentam mais ternos quando espaços são preenchidos, mesmo que por reticências indevidas.
Ostentamos tanto poder sem nada ter. E na minúcia dos detalhes, a calmaria vem branda, com gostosa brisa e aroma de passado a me acariciar.
Acalma-me a emoção. Confunde-me a razão. E tantas perguntas ficam assim, sem resposta.
Desventura se perdeu por trás de muros que não enxergo mais. Por ora, tudo a fazer deve ser com menor esmero e maior verdade.
Estou fluindo numa liberdade que desconheço, limitado como borboletas que vivem apenas dois dias da mais pura felicidade.

18 de outubro de 2010
dimitry uziel

PESSOA

Ambos à beira do poço
Achamos que é muito fundo.
Deita-se a pedra, e o que eu ouço
É teu olhar, que é meu mundo.

               ***

Leve sonho, vais no chão
A andares sem teres ser.
És como o meu coração
Que sente sem nada ter.

Fernando Pessoa

A HORA DO TREM PASSAR

Na cadencia das noites solenes, quase me entrego às lacunas que jamais se preenchem. Olho para a mesa onde descansam meus braços cruzados e recordo cada toque, cada detalhe, olhar, riso, até mesmo um sutil, quase que imperceptível trejeito das mãos que bailam soltas no ar.
Já na hora de me deitar, me corre pela lembrança, também, a vaga idéia de sempre estar. Mas me persegue também a indagação desgraçada: onde estar?
Quando as pernas se entrelaçam numa dança louca, num beco colorido, os braços perdem os sentidos e involuntariamente se encontram. A mente já não trabalha como deveria. É hora de o trem passar e uma doce quimera surgir.
Estrangula-me o cachecol negro de lá fina, o frio já não é tão cortante e meus braços continuam a fazer gestos involuntariamente.
A mesa ainda continua aqui, os braços, a lembrança e vinis que devo limpar...
Estou mais leve!

18 de outubro de 2010
dimitry uziel

terça-feira, 5 de outubro de 2010

AS CORES DA NOITE

Noite nublada, ruas luminosas, pessoas transitam sem um rumo certeiro...


Nas altas horas, quando achamos que lugares pequenos já conhecemos, nos deparamos com a beleza das noites e dos dias, com as cores e os traços disformes, mas que esbanjam delicadeza e perfeição. Muros altos, faces, peixes, malabares, poetas, palhaços, música, urbanização que transborda se mesclando ao surreal, pura magia. O colorido das imagens me desperta uma sensação incrível. Duas latas de cerveja e começamos um diálogo enternecido.

Tudo o que o estresse do dia-a-dia nos causa, lá é vetado. Pois nada de mal pode nos afetar entre as cores, as belas palavras poéticamente declamadas, os pinos de malabaristas e o acordeon do músico que embala o começo de noite.

A essência de cada coisa que ali nos esclarece parte da vida é como descobrir que tudo pode ser fantástico nos mínimos detalhes reunidos de uma forma hamoniosa e embevecida.