quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A insônia nos faz passear por distantes ruas desconhecidas. Ela nos faz apreciar sutis e rápidos aromas de lembranças recônditas no lado mais escuro da memória.  Uma parede branca se constrói, nela criamos um mundo espetacular que nunca mereceremos. Que nunca vislumbraremos; Um enorme quadro em branco que nunca sentirá o toque de um pincel.
Cigarros, fumaça, grandes olhos na janela dos dias, dos meses, dos anos onde não nos reconheceremos. Nunca mais olharemos no espelho com os mesmos olhos. E, se ao raiar do sol, ainda estiver aqui, eu não sentirei a leveza do que deixei de ser para estar onde estou.
A neblina produzida por minha vontade, não é meu consolo... muito menos meu paraíso.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Após tempos, deitado em horas mortas, eu, fugitivo das manhãs cadentes, reclinei o peso da vida sobre a janela do inferno. Despejei todo o mau líquido pelo jarro do olhar, agraciado pela companhia ausente.
Companhia ausente...
A ausência passeia graciosamente por ruas ensolaradas, se deita a beira de verdes rios e espera, inconscientemente, em areias brancas de praias vazias.
A ausência não deduz minha existência, nem me fita pela janela de seu paraíso artificial.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

PostPunk made in Brazil


Em plena madrugada de 24 de setembro de 2011, acontecia mais uma edição da festa alternativa Dopamine e, ali, pouco antes de eu entrar para discotecar, na pista, eu fui presenteado pelo amigo Vagner Sousa (Noctvillains) com a coletânea De Profundis, lacrada, linda e com aroma de nova...

DE PROFUNDIS – Brazilian Post Punk Compilation é o que traz a belíssima capa ilustrada pela escultura de Luiz Brizzolara, que retrata uma singular tristeza contrastada pelos prédios que a cercam. Quando falamos sobre tristeza, pode nos parecer trágico, a primeiro instante. Porém, nem sempre ela carrega consigo esse significado. Podemos enquadrá-la na tão magnífica posição de inspiração. Quantos músicos, poetas, cronistas e pintores não foram embriagados por um triste minuto solene para nos brindar com uma obra de arte?
Pois bem. Este é um disco que corrobora que após anos, aqueles que viveram ou apenas foram influenciados pelos anos 80, continuam numa busca infindável de manter aquela obscura e poética chama acesa.
Aqueles que ficaram adormecidos ou embarcaram numa leva de conhecimento por novas bandas (por mais que antigas) e, hoje, se esquecem de colocar o velho Bauhaus nas caixas de som... Bom, essa é a hora de despertar. Por ora, creio que todos já descansaram o suficiente. A chama está acesa e, ainda há muito para queimar.
Após nove anos, da ultima compilação, De Profundis, novamente traz um trabalho de qualidade, coeso, como já era de se esperar, com algumas bandas que surgiram há pouco, mas com a experiência de muito tempo na estrada e, outras, pioneiras na cena Post Punk made in Brazil.
E, sem sombra de dúvidas, esse é aquele tipico disco que colocamos no som do carro, no mp3, no discman ou gravamos numa fita k7 para ouvir enquanto se passeia pelas estranhas ruas de São Paulo ou uma ótima trilha sonora para a elaboração e a escrita de um livro que acaba de sair da gaveta, após anos esperando sua reconstrução.


Enfim... Nas últimas horas, tenho escutado apenas esse álbum. E, creio que ainda o escutarei mais. Pois não estou falando "simplesmente" de uma união de várias bandas. Falo de uma minuciosa escolha de sons, com esmero, que vai do simples e muito bem trabalhado violão às perturbantes e deliciosas batidas eletrônicas que só uma onda dark sabe fazer. 

A coletânea traz:
The Tears of Blood
Elegia
Wintry
The Downward Path
Broken Days
Noctvillains
Persephone Eyes
Escarlatina Obsessiva
Ecos D’alma
Disciplina Urbana
Modus Operandi
Glassbox
Igreja do Sexo
Vultos
Segundo Inverno
Nene Altro e o Mal de Caim
Baudelaire
Lupercais
Pompas Fúnebres
Sinfonia do Acaso


O disco pode ser encontrado na loja Baratos AfinsAv. São João, 439 - 2º andar - Lojas 314/318 – São Paulo
ou pela internet: www.baratosafins.com.br

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Instante


Ocioso e cético como as pedras nas praias frias
Sob um tímido sol de inverno.
Quando os tempos nos são severos
E ninguém entenderá
Tranco-me num mundo que ainda é capaz de me suportar

No resto dessas verdades que todos se negam a escutar
Eu também não ouso me apegar
Mas as espreito com olhar lacrimoso
E a boca ressequida

As noites têm sido grandiosas, prolongadas
E existe aqui uma falta daquilo que nunca conheci.
Um abismo aveludado, macio
Que traz a ilusão de bem estar.

Não hei de partir hoje
A saliva que escorre dos lábios sedentos me fará rastejar.
E, se por ventura, algum destino me quiser acolher
Que seja para não me abandonar.

Pois sei que no escuro
Há de raiar um lúbrico beijo da solidão.
E desse agridoce conheço cada toque
Como o meu próprio corpo.

O descanso desse peito
Que parece se negar a pulsar no próximo instante
É o reflexo dos meus fantasmas que me suportam
Tão entediados quanto eu...
A espera do salto livre.


Dimitry Uziel

segunda-feira, 6 de junho de 2011

DOPAMINE por Plinio Cesar Batista


A rua Canções Prelúdios, somente pelo nome, se estivesse fincada no Jardins, no Baixo Augusta ou até  mesmo na Vila Madalena, talvez chamasse mais a atenção das pessoas.
Mas o endereço fica bem distante desses centros movimentados de São Paulo, mais precisamente no bairro do Itaim Paulista, zona leste, e aproximadas uma hora e quarenta minutos de distancia, que foi o tempo que eu levei para chegar no numero 549, onde eu tocaria pela primeira vez numa festa que se chama Dopamine 80 mg.
Os organizadores do evento quinzenal, que esta prestes a completar um ano, Dimitry Uziel, Bathory Uziel e Robson Gomes, que também é guitarrista e vocalista do The Concept, conseguiram fazer de um lugar simples e sem luxo algum, em noites de magicas de sábados.
Isso porque o que prevalece lá  é a essência da boa musica e de pessoas que são amigas e estão ali para se divertirem e tocarem frenéticamente suas air guitars, sejam elas para as velhas ou novas obras musicais.
O resultado dessa química é surpreendente pois pode-se constatar que essa é uma festa onde se toca as melhores canções por hora dançada.
E o publico interage bastante, seja na hora de pedir musicas (muitas novidades entre elas), ou mesmo, não deixando a poeira baixar, como foi na hora em que o equipamento de som falhou e eles continuaram pulando e cantando em coro, transformando o local num grande karaokê indie.
O detalhe foi que as caixas abriram o bico justamente na musica Any Way That Want Me, do Spiritualized, uma das mais calmas da noite.
Outro fato importante a destacar foi a grande quantidade de pessoas jovens que não perdem seu precioso tempo criticando e falando mau do que não gostam e procuram saber e conhecer mais daquilo que gostam, sendo curiosas e perguntando nomes de bandas e das musicas que estavam sendo tocadas, como há  muito tempo eu não via durante minhas discotecagens.
Com muito rock a preços justos a Dopamine é uma ótima opção não só para o pessoal da zona leste. É  diversão garantida para pessoas de bom gosto musical de todas as regiões de Sao Paulo.

Dopamine @ Aniversario de 1 ano
Dia 18 de Junho de 2011
LineUp: Dimitry e Rob Son
+ Exposição de Artes by Phá Bemol & Lua Palasadany


Por Plinio Cesar Batista

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Essência Instigada

Falo do tempo como se ele não existisse
Como se fosse uma propaganda...
Uma propaganda enganosa e caluniosa.
Falo em demasia, em triste demagogia.

Um campo vasto, um lago raso, uma praia imunda.
A cidade transpira medo e prazer
Como se a delicadeza do lar não nos fosse apropriada
E fugimos noite após noite.

É essa nossa essência tão instigada
Essa nossa ânsia, essa sede nunca saciada
Que arrebenta o peito fraco que se recusa a pulsar
Quando a alma quer pela boca pular.

“A alma é essa coisa que nos pergunta se alma existe.”
E por essa e por outras indefinições tão ininterruptas
Que o suor verte nocivamente dos punhos, da face, dos pés.

Nossa vida... Nossa vida é nos convencermos sobre nosso próprio sentido.
(Acho que é)
O rumo pouco importa
O que interessa é a chegada.
A partida, a gente nem percebe...
Quando olhamos pra trás... Já foi.

Entre as sobras do que nos resta
Sempre nos falta algo.
É como não estar completo.
Como se soubéssemos o significado do preenchimento.

Entre as sombras que nos cercam
E nos recepcionam com sorrisos felinos
Existe uma lacuna imensurável entre os dentes.
São elas que nos abarcam pela manhã.

Pode me guardar com teu pranto,
Gargalhar quando burlesca for a arte.
Pode gritar no mais alto e desafinado tom do canto
E se indagar sobre a violência da morte.

A juventude é bissexual.
Isso é indubitável.
É o som, é a fúria.

A natureza parece ser algo que só não deu certo para quem deixou morrer o ontem.
Essa é a verdade.
E a verdade é dúbia.

 Dimitry Uziel

DOPAMINE #18 | The War Is Over

esboço




terça-feira, 3 de maio de 2011

Budapeste

Na primavera reclinei meu corpo,
Lembrei de minha vida.
Poderia ter sido um sonho.
Mas preferi o sono.
Não posso dedicar meu mundo ao tempo.

Admirei a folhagem verde,
A chuva ácida, a lentidão das coisas.
A fábula materializada, tão colorida e grandiosa dentro de tão pequenos olhos.
É abril.
As estações mudaram.
Vamos para Budapeste?!
Ainda guardo as cores de Paul Klee.
Vamos! Lá estaremos mais próximos de sua essência.
Vamos olhar pela fresta do mundo um céu Húngaro.

Dimitry Uziel

Delírios

Dos campos verdes às ruas fétidas, a alma já está perdida no primeiro piscar de olhos.
Contenta-te com um sol morno, a fria sombra de calor e um brilho eterno que te guardam num plano maior.
Dos Fartos banquetes à mesa vazia da fome, do sagrado amor ao grande ódio, a fúria não se contêm.
Essa temporada ligeira no estranho presente só intensifica os medos dos maiores medos.
Porque buscar um sol eterno onde reina o desconhecido se o prazer de não estar é maior que amores distantes?

Dimitry Uziel
O que vemos é apenas aparência
Debruçados sobre uma autobiografia,
Uma janela quebrada, com vista para o ontem.

quinta-feira, 17 de março de 2011

...o silêncio


Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer

Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas

Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração

Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta

Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Chico Buarque

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Metrópole


Essa noite fui acolhido pela nostalgia das culturas invisíveis, das artes sujas, da plástica mundana. Fui, nessa noite, arrebatado pela beleza cosmopolita da cidade poluída. Missas, política, grafite, fotografias, gravatas e bermudas surradas. Um gosto agridoce no paladar falido. Os mendigos risonhos se misturavam e camuflavam entre doutores carrancudos. Meu semblante atônito perante a tantas informações nebulosas, outras perfídias, causou pânico ao reflexo da nostálgica persona desta noite de comemoração.
Céu limpo, estrelas cadentes após a rápida garoa, esperança de bonança. Nada demais, apenas nostalgia. Tudo muito simples, perspícuo, pavoroso e belo.
Aqui, dentro de mim, aparentemente, a indiferença reina. Lá fora, a metamorfose dos quatrocentos e cinquenta e sete anos é evidente. Eis a cidade de alterações constantes. Aqui, nada dura por muito tempo, não há tempo de envelhecer, nos restam apenas as fotografias, as lembranças e a nostalgia.

Parabéns São Paulo, por aquilo que se possa parabenizar.

“Encorajo minhas pernas e mãos à toda essa patriotice.”

Dimitry Uziel
25/Jan/2011
Nenhuma mulher e nenhum homem está devidamente preparado para a verdade. Isso pode levá-los a morte.
Nenhuma mulher e nenhum homem está, de fato, preparado para morrer de verdade.

Dimitry Uziel

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ele.


Para mim. A história das minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna.
Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances dos nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos.
Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes : acreditava em todas as magias.
Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e, com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-los.
Foi primeiro um experimento. Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.

A. Rimbaud