Há tempos tenho observado a dolorosa escuridão
que vem me cercando lentamente, a desistência das buscas, das escolhas, dos
desejos mais ternos. Misteriosamente, afaguei meus monstros, acariciei meus
fantasmas que, agora, caminham por aí com as flores que lhes dei como símbolo
de trégua em nossas desavenças, fechei meus olhos e me deixei transitar pelas
veredas repletas de curvas e cheias de prateleiras nas quais tudo que tenho não
me pertence. Na cabeceira puída dos meus sonhos, encontrei desejos falidos,
sentimentos descalços e cortinas rasgadas. Aquela procura jovial que se
estampava bela em minha face, se esvaiu. Os sonhos mais especiais e inundados
de magia, sossegaram, e já não palpitam forte nesse peito que, em muitas horas,
me parece parado, gélido e esquecido em um tempo que não ousei conhecer. Os
muros do medo se movimentam, tornando o quarto da insanidade cada vez mais
sombrio, apertado, menor. Tenho, na parede da memória, bilhetes espalhados, com
frases já quase apagadas; recados que deixei à mim mesmo, lembretes de tudo
aquilo que esqueci de ser; uma cicatriz eterna nas recordações de todos os
momentos que nunca aconteceram e jamais acontecerão. Desse modo, concluo que, na dureza e brilho, todos meus desejos se parecem
com diamantes distantes, escondidos em minas isoladas, ocultas e jamais
visitadas.