Falo do tempo como se ele não existisse
Como se fosse uma propaganda...
Uma propaganda enganosa e caluniosa.
Falo em demasia, em triste demagogia.
Um campo vasto, um lago raso, uma praia imunda.
A cidade transpira medo e prazer
Como se a delicadeza do lar não nos fosse apropriada
E fugimos noite após noite.
É essa nossa essência tão instigada
Essa nossa ânsia, essa sede nunca saciada
Que arrebenta o peito fraco que se recusa a pulsar
Quando a alma quer pela boca pular.
“A alma é essa coisa que nos pergunta se alma existe.”
E por essa e por outras indefinições tão ininterruptas
Que o suor verte nocivamente dos punhos, da face, dos pés.
Nossa vida... Nossa vida é nos convencermos sobre nosso próprio sentido.
(Acho que é)
O rumo pouco importa
O que interessa é a chegada.
A partida, a gente nem percebe...
Quando olhamos pra trás... Já foi.
Entre as sobras do que nos resta
Sempre nos falta algo.
É como não estar completo.
Como se soubéssemos o significado do preenchimento.
Entre as sombras que nos cercam
E nos recepcionam com sorrisos felinos
Existe uma lacuna imensurável entre os dentes.
São elas que nos abarcam pela manhã.
Pode me guardar com teu pranto,
Gargalhar quando burlesca for a arte.
Pode gritar no mais alto e desafinado tom do canto
E se indagar sobre a violência da morte.
A juventude é bissexual.
Isso é indubitável.
É o som, é a fúria.
A natureza parece ser algo que só não deu certo para quem deixou morrer o ontem.
Essa é a verdade.
E a verdade é dúbia.
Dimitry Uziel